Sinto vergonha
de mim
Cleide
Canton
Sinto vergonha
de mim
por ter sido educadora de parte desse povo,
por ter batalhado
sempre pela justiça,
por compactuar com a honestidade,
por primar pela
verdade
e por ver este povo já chamado varonil
enveredar pelo caminho
da desonra.
Sinto
vergonha de mim
por ter feito parte de uma era
que lutou pela
democracia,
pela liberdade de ser
e ter que entregar aos meus
filhos,
simples e abominavelmente,
a derrota das virtudes pelos
vícios,
a ausência da sensatez
no julgamento da verdade,
a negligência
com a família,
célula-mater da sociedade,
a demasiada preocupação
com o
"eu" feliz a qualquer custo,
buscando a tal "felicidade"
em caminhos
eivados de desrespeito
para com o seu próximo.
Tenho
vergonha de mim
pela passividade em ouvir,
sem despejar meu verbo,
a
tantas desculpas ditadas
pelo orgulho e vaidade,
a tanta falta de
humildade
para reconhecer um erro cometido,
a tantos "floreios" para
justificar
atos
criminosos,
a tanta relutância
em esquecer a antiga posição
de sempre
"contestar",
voltar atrás
e mudar o futuro.
Tenho
vergonha de mim
pois faço parte de um povo que não reconheço,
enveredando
por caminhos
que não quero
percorrer...
Tenho
vergonha da minha impotência,
da minha falta de garra,
das minhas
desilusões
e do meu cansaço.
Não tenho para onde ir
pois amo este meu
chão,
vibro ao ouvir meu Hino
e jamais usei a minha Bandeira
para
enxugar o meu suor
ou enrolar meu corpo
na pecaminosa manifestação
de nacionalidade.
Ao lado da
vergonha de mim,
tenho tanta pena de ti,
povo
brasileiro!
SP,03/09/2006