Mataram mais do que Daniel Duque...
Má Oliveira
 
 
Estive vendo os noticiários sobre a morte do menino
Daniel Duque assassinado com um tiro disparado
por um policial militar em junho deste ano, me assustei...
De um lado uma mãe ameaçada por Fernandinho Beirar,
tem ao seu dispor um Policial Militar para garantir a
sobrevivência de seu filho...
De outro lado uma mãe em desespero, cujo filho,
jovem, inteligente, esportista, cheio de vida,
teve seus dias abreviados, por esse mesmo PM que garantia a vida do outro...
 
Duas mães...
duas estórias diferentes...
dois finais trágicos...
Dois corações que sofrem de formas diferentes,
mas sofrem...
 
O Policial Militar foi absolvido, por unanimidade,
a defesa acha justo, até o Ministério Público clamou por sua absolvição...
Aliás, Promotor esse que se referiu de forma  grotesca
em relação às testemunhas e a vítima...
A acusação, por sua vez, diz que o julgamento ocorreu
alheio as provas dos autos, que testemunhas importantes
deixaram de serem ouvidas e pleiteia sua anulação...
(http://www.midiaindependente.org/pt/blue/2008/10/430451.shtml)
 
Paraaaaaaaa!
 
Que me perdoe à mãe desse menino, mas o
julgamento ocorrido no dia 08/out/2008, matou mais
que Daniel Duque, matou o resto de credibilidade que
havia na justiça brasileira...
Não estou dizendo que o julgamento foi errado ou certeiro, desconheço o conteúdo dos autos.
Refiro-me a postura do Senhor Promotor de Justiça,
que se refere a vítima Daniel como "pitbull" e a sua mãe como "descontrolada" e leviana ("sic" Estou avaliando até
 que ponto a leviandade pode ser perdoada pela dor que
ela está sentindo)
http://oglobo.globo.com/rio/mat/2008/10/08/mae_de_daniel_duque_diz_que_vai_entrar_com_uma_acao_contra_estado_pedindo_
indenizacao-548631078.asp
 
O Juiz então... tô pasma!
Quando Daniela gritou "meu filho não é um pit-bull." O juiz Sidney Rosa da Silva pediu que ela se retirasse da sala. Ela saiu, mas antes  lembrou a todos os presentes que seu filho levou um tiro de uma distância de 30 centímetros...
Foi aplaudida pelos ali presentes, que também tiveram que deixar o recinto, ouvindo a alegação do Juiz de que  "o julgamento não era um circo".

Concordo. Julgamento NÃO pode e não deve ser um circo...
Mas penso que o exemplo deve vir de cima...
 
 
De acordo com o  Promotor Marcelo Monteiro, foram inconsistentes os depoimentos das testemunhas de acusação.
Testemunhas essas que, pelas imagens mostradas pelos telejornais, me pareciam desconfortáveis...
Até se já usaram drogas lhe questionaram...
Parecendo até que o julgamento era contra eles...
De testemunhas a réus...
 
Segundo o Promotor,  o PM agiu em legítima defesa e o disparo que atingiu o estudante não foi intencional.
Pode até ter sido exatamente assim...
Mas a defesa calorosa, feita pelo Promotor, levou a justiça a mais uma situação de descrédito...
Vai ver é seu jeitão... não o conheço...
mas despertou um sentimento de dúvidas na população...
 
Genteeeeeeeeeeeeeeeee! 
O PM fazia a segurança do menino, 
para protegê-lo de bandidos ligados ao tráfico de
drogas, o que justifica  ter "puxado" a arma numa
briga de rua envolvendo jovens desarmados???
 
Esse parece ser, também, o entendimento do Sr. Procurador-Geral do Rio de Janeiro, Marfan Vieira, o qual declara que "mesmo estando ameaçados, os promotores e suas famílias tentam viver dentro da normalidade, mas que o caso pode fazer com que o Ministério Público determine limites para a segurança" e prossegue alegando que "O procedimento normal é retirar a pessoa do local com segurança e não participar do evento"
 
Também o governador do Estado do RJ, Sérgio Cabral (PMDB), ao se manifestar sobre o caso, classificou de "despreparo" a ação do policial. Para ele, "mesmo que fosse uma briga violenta, não era o caso de puxar uma arma"
http://www.aesmp.org.br/index.asp?cpath=vis_noticia&cod=2459
 
E o promotor se sente ofendido quando Daniela Duque alega que suas atitudes demonstraram corporativismo??
 
Ofensivo é a mãe de Daniel ter que pedir ajuda ao Consulado dos Estados Unidos, uma vez que o jovem é filho de americano e tem dupla cidadania.
Ela é uma brasileira, como eu, como você!
Mas neste País, quando o assunto é Justiça...
 
 
Insistindo na leitura sobre o caso, vi pessoas se referirem a Daniel como playboy, riquinho...
Isso é motivo para alguem ser morto?
Só queria entender...
 
 
Torno a dizer, não conheço o conteúdo dos autos e não posso julgar a inocência ou não do PM e não estou aqui debatendo esse ponto.
Mas conheço a vida, sei o que é ser mãe, conheço um pouquinho de justiça nesses meus anos dedicados ao direito, mas isso vamos pular, pois não vi os autos...
 
Mais acima de tudo conheço uma coisa chamada respeito, elemento que por todas as reportagens exibidas na TV, jornais, internet e etc., faltou neste julgamento.
Como se Daniel Duque, por não ser pobre, por estar numa boate e se envolver numa briga, merecesse morrer...
Não consigo entender...
Preconceito?
Inveja?
Despeito?
 
 
Bem que alguem do Rio de Janeiro podia xerocar esse processo, scannear e disponibilizar na internet, né?
Ou tá correndo em segredo de justiça???
Seria interessante a população ter acesso  e, se realmente, o julgamento foi alheio às provas dos autos, vai ficar feio ...
 
Quanto ao PM, réu confesso, segundo seu advogado, ele enfrenta dificuldades financeiras. "Ele está deprimido, à base de remédios, e vende quentinhas para sobreviver porque não recebe mais a gratificação do MP. A vida desse rapaz acabou". http://noticias.terra.com.br/brasil/interna/0,,OI3243858-EI5030,00.html
 
A dele?
Eita mundão que estamos vivendo!
E durmam com mais essa inversão de valores...
Ele tá sem DINHEIRO...
Daniel, sem vida...
Daniela sem seu filho...
O povo sem fé na Justiça...
 
Má Oliveira, em luto!
 
 
Publicado no Recanto das Letras em 11/10/2008 - Má Oliveira -
Código do texto: T1222351