Mulher Nua
Má Oliveira
 
Tão confusa a mente...
sai pelas ruas sem notar
que a dignidade esqueceu de calçar...
 
Os pensamentos embaralhados
lhe impedem de reparar
a nudez moral com a qual está a desfilar
 
nem percebeu que a base e o pó,
o desrespeito,
não puderam disfarçar...
 
Ao fazer a oração ao Senhor Bom Jesus de Pirapora,
percebe que é impossivel ajoelhar
 
Corpo tremendo...
 
sai do sol,
pra conseguir melhor enxergar...
o sal ainda lhe chega aos lábios,
no muro não consegue debruçar...
 
Como pode deixar o amor próprio embolorar?
Talvez ainda esteja jogado ao fundo de algum armário,
com um pouco de ajuda dos amigos,
acredito,
possa encontrá-lo e o restaurar...
 
E aquele sorriso gostoso
que os olhos faziam brilhar,
por que abriu mão de usar?
Lhe caia tão bem...
E usado junto com o respeito,
e a dignidade que esqueceu de calçar,
 bem vestida iria ficar...
 
Os cabelos antes vistosos,
no momento não podem serem escovados,
mas logo vai dar pra neles tocar...
talvez seja a hora de alguem
que também goste de lhe fazer tranças
 chegar...
Finalmente a saudade do amor,
há uma década partido,
irá superar...
 
lenços de papel e abraços sinceros,
reconfortam,
mas não apagam o que o corpo sente...
nem o que aterroriza a mente...
 
Ah! Ingenuidade em pensar
 que as grades das janelas
não deixariam tudo atravessar...
 
essa tua nudez,
todos puderam observar...
 
em teu cantinho,
tantas evidências 
de dor, medo e  violência
só não viu quem se permitiu enganar
e de poesia triste preferiu denominar...
 
O grande Mestre Levi de Mello
me lembrou aquela frase:
"Mas vale um fim amargo,
do que uma amargura sem fim"
 
Amanhã,
vestida de novo
e sorrindo assim...
Despida,  pra sempre, dessas algemas,
que tiveram o esperado fim...
 
e quando de amor
 te ouvirem contar
não será mais imortalizando os momentos
que as amigas pediram pra ilustrar
nem sobre momentos vividos,
que nas distantes  lembranças,
 foste obrigada a buscar...
 
 
Publ. no Recanto das Letras - 02/08/10 - Cód.Texto 2415222