Nada a declarar...
Má Oliveira
 
Teu altar?
redoma de vidro
nunca é bom lugar...
 
Ao som da tua "oração",
borboletas se vão...
de amoras,
tinge-se o chão...
 
Alfazemas dominam o ar,
Gerânios por todo lugar,
até o beija-flor teme voar,
 
violetas vejo, em meu corpo brotando...
o beijo, ao sal se misturando...
"amor" rasgando...
 
cortinas balançam,
o sol me toca, por um breve momento...
saudades do vento...
 
mas as lágrimas estão rareando...
mágoas acalmando...
muitas, em céu claro, se transformando
Otelo, se controlando...
 
os ferrolhos teve que girar
é...
era de se esperar,
iam começar a questionar...
mas já entendi: Nada a declarar!
 
os lírios na porta,
ensaiam um até já...
pensamento começa a regressar,
um sorriso eu ia esboçar...
Você me faz acordar...
 
Desta vez, meu algoz
veio pra me salvar??
 
Penitência paga, sem pecar...
amizade e respeito?
ingênua...
é o que vão,
de novo, falar...
 
A clausura, em Paraíso,
acabou por se transformar...
 
Nossa Senhora, num colar...
lágrimas se põem a rolar...
 
realmente,
"Nada a declarar"
 
 
 
Publ. Recanto das Letras - 22/02/2010 - Má Oliveira - 
Cód do texto: 2101569